Não existe digital sem energia: o dilema climático da era 5G

*Por Pedro Al Shara

O avanço do 5G é mais do que uma revolução tecnológica: é a base de uma nova economia hiperconectada. Cidades inteligentes, veículos autônomos, telemedicina em tempo real e indústrias cada vez mais automatizadas dependem de uma rede capaz de transmitir grandes volumes de dados com baixa latência. Mas há uma pergunta incômoda que precisa ser feita: como alimentar essa hiperconectividade sem ampliar nossa pegada de carbono?

A resposta exige encarar o fato de que cada salto tecnológico vem acompanhado de maior demanda por energia. Em um relatório de 2025, a Agência Internacional de Energia (IEA) estima que os data centers consumiram cerca de 415 TWh em 2024, equivalente a 1,5 % do consumo global de eletricidade, e projeta aquisições ainda maiores com a expansão de inteligência artificial, rede 5G e aplicações em nuvem. Essa cifra serve como alerta: não basta empilhar antenas e fibras, se a energia que as sustenta for do tipo “velha conta de carbono”.

No Brasil, outro dado chama a atenção: a matriz energética avançou expressivos 10.853,35 MW em 2024, número recorde segundo a ANEEL, e dessa nova capacidade instalada 91,13 % provém de fontes solar e eólica. Ou seja, a transição energética brasileira pôde contar com aporte renovável dominante nesse salto, algo que pode ser articulado com ambições de rede sustentável.

Isso nos leva a uma reflexão mais ampla: se a conectividade é hoje uma infraestrutura tão crítica quanto estradas e portos, precisamos pensar a energia que a sustenta como parte do mesmo projeto estratégico. Não é simplesmente “fazer mais com menos”, e não se trata apenas de trocar combustíveis fósseis por renováveis, mas de redesenhar a forma como consumimos, armazenamos e distribuímos eletricidade em um cenário de tráfego exponencial.

O 5G tem o mérito de ser mais eficiente por gigabyte transmitido do que gerações anteriores, mas a multiplicação de antenas, dispositivos e aplicações exige que essa eficiência venha acompanhada de inteligência energética. Isso significa integrar fontes renováveis distribuídas, adotar tecnologias de armazenamento que garantam resiliência e investir em soluções que mantenham a rede estável mesmo em situações de estresse.

O paradoxo é claro: a mesma hiperconectividade que demanda mais energia pode ser uma ferramenta para reduzir emissões, seja ao otimizar rotas logísticas, automatizar processos produtivos ou permitir serviços digitais que substituem deslocamentos físicos. Mas para que esse potencial se cumpra, a base energética precisa ser sólida, limpa e confiável.

Se quisermos que a era do 5G e do que vem depois seja lembrada não apenas pela velocidade de conexão, mas também pela responsabilidade ambiental, teremos de assumir que não existe digital sem energia. E que, no fundo, a rede do futuro só fará sentido se estiver ligada não apenas às antenas e cabos, mas também ao compromisso de deixar um planeta habitável para os próximos usuários.

*Pedro Al Shara é CEO da TS Shara indústria nacional fabricante de nobreaks, inversores e estabilizadores de tensão e protetores de rede inteligente.

Fonte: IpeSi – 24/10/25

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